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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Lingüística (Variantes Lingüísticas)


VARIANTES LINGUÍSTICAS



 A língua não é una, ou seja, não é indivisível; ela pode ser considerada um conjunto de dialetos. Alguém já disse que em país algum se fala uma língua só. Há várias línguas dentro da oficial. E no Brasil não é diferente. Cada região tem seus falares, cada grupo sociocultural tem o seu. Pode-se até afirmar que cada cidadão tem o seu. A essa característica da Língua damos o nome de variação linguística.

—  Qualquer cidadão, quando resolve emitir algumas palavras, faz isso não isoladamente. As frases ditas por cada um de nós não são construídas por nós próprios, mas sim por tudo o que nos fez tornar o que somos hoje: nossa família, a terra em que nascemos e em que vivemos, as escolas em que estudamos (principalmente nas séries iniciais), as pessoas com as quais convivemos, os livros que lemos, os filmes a que assistimos, enfim, nossa maneira de falar é formada, não é criada. E é formada pouco a pouco.

Aliás, nunca é totalmente acabada.
—  A variação linguística mais evidente é a que corresponde ao lugar em que o cidadão nasceu ou no qual vive há bastante tempo. Há jeitos de pronunciar as palavras, há melodias frasais diferentes de região para região. A variação mais famosa do Brasil é o “s” chiante do carioca.

—  A essa variação, que corresponde ao lugar, dá-se o nome de variação diatópica. Essa palavra é formada pelos seguintes elementos:
—  “dia-“, prefixo grego que significa “através de, por meio de, por causa de”;
—  “topos”, radical grego que significa “lugar”;
—  “-ico”, sufixo grego, que forma adjetivos.

—  A variação diatópica pode ocorrer com sons diferentes. Quando isso acontecer, dizemos que ocorreu uma variação diatópica fonética, já que fonética significa “aquilo que diz respeito aos sons da fala.

A diferença, porém, pode não ser de som, mas sim de vocabulário, ou seja, de palavras diferentes em sua estrutura. Por exemplo, em Curitiba, PR, os jovens chamam de “penal” o estojo escolar para guardar canetas e lápis; no Nordeste, é comum usarem a palavra “cheiro” para representar um carinho feito em alguém; o que em outras regiões se chamaria de “beijinho”. Macaxeira, no Norte e no Nordeste, é a mandioca ou o aipim. Essa variação denominamos de variação diatópica lexical, já que lexical significa “relativo a vocabulário”.



Outra variação bastante evidente também é a que corresponde à camada social da qual o indivíduo faça parte. O falar de um cidadão é subordinado ao nível socioeconômico e cultural dele. Quanto mais estudo tiver, mais bem trabalhadas serão suas frases. Quanto mais livros ler, mais cultura terá. Quanto mais exemplos tiver de seus pais e professores, mais facilmente se comunicará com os demais.
—  A essa variação, que corresponde ao estrato social, à camada social e cultural do indivíduo, dá-se o nome de variação diastrática. Essa palavra é formada pelos seguintes elementos:
—  “dia-“, prefixo grego que significa “através de, por meio de, por causa de”;
—  “estrato”, radical latino que significa “camada”;
—  “-ico”, sufixo grego, que forma adjetivos
—  A variação diastrática, como também ocorre com a diatópica, pode ser fonética, lexical e sintática, dependendo do que seja modificado pelo falar do indivíduo: falar “adevogado”, “pineu”, “bicicreta”, é variação diastrática fonética. Usar “presunto” no lugar de “corpo de pessoa assassinada” é variação diastrática lexical. E falar “Houveram menas percas” no lugar de “Houve menos perdas” é variação diastrática sintática.

—  A última variação, não menos importante que as anteriores, é a que corresponde à licença que cada um de nós tem para falar e escrever o que bem entender da maneira que quiser.
É a que permite um cidadão extremamente culto usar informalmente a expressão “Eu encontrei ele” no lugar de “Eu o encontrei”. É a linguagem informal, solta, às vezes até desleixada.
—  Principalmente o jovem tem o hábito de usar essa variação. É bastante comum ouvirmos um “veio”, com o e aberto, numa conversa entre adolescentes ou um “mano” na alta sociedade. É comum também essa variação na linguagem caseira, em que pai, mãe e filhos não estão preocupados com a comunicação dentro da norma padrão, ou na linguagem descontraída de uma roda de amigos.



Outra modalidade desta variação ocorre na Literatura, na qual o autor de poesias, contos, romances, novelas, etc. tem a liberdade de cometer deslizes, de inventar palavras, de recriar.
—  estruturas sintáticas, enfim, tem liberdade para aplicar seu estilo em seus escritos. Isso tem até nome: licença poética ou liberdade poética.
—  Repare o poema a seguir, de Oswald de Andrade:

ERRO DE PORTUGUÊS
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
—  A essa variação, que corresponde à liberdade de expressão, dá-se o nome de variação diafásica.
Essa palavra - diafásica - é formada pelos seguintes elementos:
“dia-“, prefixo grego que significa “através de, por meio de, por causa de”;
“phasys”, radical grego que significa “expressão”;
“-ico”, sufixo grego, que forma adjetivos.
A variação diafásica, como ocorreu com a diatópica e com a diastrática, pode ser também fonética, lexical e sintática, dependendo da liberdade de que o indivíduo tenha se apossado. Dizer “veio”, com o e aberto, não porque more em determinado lugar nem porque todos de sua camada social usem, é usar a variação diafásica fonética. Um padre, em um momento de descontração, brincando com alguém, dizer “presunto” para representar o “corpo de pessoa assassinada”, é usar a variação diafásica lexical. E, finalmente, um advogado dizer “Encontrei ele”, também num momento de descontração, no lugar de “Encontrei-o” é usar a variação diafásica sintática.

—  Diante de tantas variantes lingüísticas, é inevitável perguntar qual delas é a correta. Resposta:
não existe a mais correta em termos absolutos, mas sim, a mais adequada a cada contexto. Dessa maneira, fala bem aquele que se mostra capaz de escolher a variante adequada a cada situação e consegue o máximo de eficiência dentro da variante escolhida.

Figuras de Linguagem (Figuras de Construção)

1. Figuras de Construção


A. Elipse
A elipse é uma figura caracterizada pela omissão de um termo facilmente subentendido; quando a omissão ocorre após esse mesmo termo já ter sido enunciado, dizemos que há zeugma, que é uma espécie de elipse.
Como processo gramatical,a elipse provoca que um referente passe a ser designado por um só dos termos de sua designação, o que pode levar a casos de derivação imprópria, como bem aponta: o (telefone) celular, o (dente) canino, a (igreja) catedral, o micro (computador), o (documento) abaixo-assinado, a (carta) circular, o (membro) representante, a (caneta) esferográfica, um (filme) documentário etc. Além disso, em alguns casos, a elipse de um termo pode provocar o aparecimento de um novo gênero para o termo sobrevivente de uma expressão, como é o caso de a rádio  (elipse de emissora de), o América(elipse de time), a Rio-Niterói (elipse de ponte), o fila (elipse de cão) o caixa (funcionário da) etc.


B. Pleonasmo
Figura caracterizada pela repetição de um termo na mesma função sintática:
- As bonecas, eu as dei para as meninas.
Onde o termo as é pleonástico, pois repete, na mesma função (objeto direto), o termo anterior bonecas.
Também é denominado pleonasmo no caso da repetição do mesmo significado por dois significantes diferentes no mesmo sintagma: descer para baixo, prever antecipadamente, entrar para dentro; nesse caso, a figura é denominada pleonasmo vicioso.
Algumas dessas repetições, porém, podem ter valor estilístico e não correspondem a problemas de construção: assim, ao dizermos Eu vi com estes olhos, o autor do enunciado pode estar tentando dar ênfase ao fato de ter visto algo que pode testemunhar com certeza.


C. Anacoluto
Figura caracterizada pela interrupção de uma frase, de tal modo que um termo fica sem função sintática:
- As meninas, é impossível entregar-lhes os prêmios.
Nesse caso, o termo sublinhado não se encaixa sintaticamente na frase seguinte, daí ser considerado um anacoluto. Se o termo sublinhado estivesse grafado com o acento grave- às meninas- teríamos um pleonasmo no elemento lhes.
Eu parece-me que vou desmaiar.
Amar, eu a amava, mas...

D. Hipérbato
Figura caracterizada pela inversão de termos na ordem direta:
Os bons que nos trazem boas novas ventos...
Papagaio em casa, eu não quero mais.
Um cãozinho tinha o Paulo fofinho e peludinho.


Hoje todos os tipos de inversão de termos na frase recebem a designação de hipérbato, mas, anteriormente, cada tipo de inversão recebia uma designação distinta: sínquese, anástrofe, tmese, prolepse, etc...


E. Assíndeto e Polissíndeto
Quando temos uma enumeração, ela pode ser feita de três modos distintos:
- Ela comprou bananas, peras e abacates.
- Ela comprou bananas, peras, abacates.
- ela comprou bananas e peras e abacates.
A primeira frase nada tem de diferente segundo a construção da frase portuguesa, mas a segunda omite a conjunção E no último elemento, provocando, com isso, uma valorização global do que foi comprado (assíndeto), enquanto na terceira  há a repetição da conjunção E (polissíndeto), causando a valorização individual de cada produto adquirido.


F. Silepse
Esta figura corresponde à concordância ideológica, ou seja, a concordância que é realizada com o sentido da palavra ou com a idéia que expressam, em lugar de ser feita com a sua forma gramatical. A silepse apresenta três tipos distintos:


a) silepse de número
- O pessoal, ainda que tardiamente, chegaram bem.
- Estamos muito contente com você.

b) silepse de gênero
- A criança apresentou-se muito bem vestido
- São Paulo está poluída.

c) silepse de pessoa
- Os vestibulandos somos muito preocupados.
- Os brasileiros somos otimistas.


G. Anáfora
Figura que consiste na repetição inicial numa frase ou verso do mesmo vocábulo:

- Deus é força, Deus é luz, Deus é poder.


*você também encontra esse documento no google docs: https://docs.google.com/document/d/1NHPu2ervc32DGZHaeXHtAh3kyfs9KSLzlGbuuJBdqlA/edit

sábado, 25 de maio de 2013

Carro Velho - O Rei do Elogio

A Tecnologia e a Educação

A Tecnologia e a Educação

Eduardo O C Chaves

1. A TECNOLOGIA

Há muitas formas de compreender a tecnologia. Para alguns ela é fruto do conhecimento científico especializado. É, porém, preferível compreendê-la da forma mais ampla possível, como qualquer artefato, método ou técnica criado pelo homem para tornar seu trabalho mais leve, sua locomoção e sua comunicação mais fáceis, ou simplesmente sua vida mais satisfatória, agradável e divertida.
Neste sentido amplo, a tecnologia não é algo novo - na verdade, é quase tão velha quanto o próprio homem, visto como homem criador (homo creator).

Nem todas as tecnologias inventadas pelo homem são relevantes para a educação. Algumas apenas estendem sua força física, seus músculos. Outras apenas lhe permitem mover-se pelo espaço mais rapidamente e/ou com menor esforço. Nenhuma dessas tecnologias é altamente relevante para a educação. No entanto, as tecnologias que amplificam os poderes sensoriais do homem, sem dúvida, o são. O mesmo é verdade das tecnologias que estendem a sua capacidade de se comunicar com outras pessoas. Mas, acima de tudo, isto é
verdade das tecnologias, disponíveis hoje, que aumentam os seus poderes mentais: sua capacidade de adquirir, organizar, armazenar, analisar, relacionar, integrar, aplicar e transmitir informação.

As tecnologias que grandemente amplificam os poderes sensoriais do homem (como o telescópio, o microscópio, e todos os outros instrumentos que estendem e ampliam os órgãos dos sentidos humanos) são relativamente recentes e foram eles que, em grande medida, tornaram possível a ciência moderna, experimental.

As tecnologias que estendem a capacidade de comunicação do homem, contudo, existem há muitos séculos. As mais importantes, antes do século dezenove, são a fala tipicamente humana, conceitual (que foi sendo desenvolvida aos poucos, desde tempos imemoriais), a escrita alfabética (criada por volta do século VII AC), e a imprensa, especialmente o livro impresso (inventada por volta de 1450 AD). Os dois últimos séculos viram o aparecimento de várias novas tecnologias de comunicação: o correio moderno, o telégrafo, o telefone, a fotografia, o cinema, o rádio, a televisão e o vídeo. Mais recentemente, como veremos, o computador se tornou um meio de comunicação que engloba todas essas tecnologias de comunicação anteriores.

As tecnologias que aumentam os poderes mentais do homem, e que estão centradas no computador digital, foram desenvolvidas em grande parte depois de 1940 - mas só começaram a ter um grande impacto na sociedade a partir do final da década de 70, com a popularização dos microcomputadores e sua interligação em redes. O computador, além de ser uma tecnologia fundamental para o processamento das informações, vem, como vimos, gradativamente absorvendo as tecnologias de comunicação, à medida que estas se digitalizam.


2. A TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO

Várias expressões são normalmente empregadas para se referir ao uso da tecnologia, no sentido visto, na educação. A expressão mais neutra, "Tecnologia na Educação", parece preferível, visto que nos permite fazer referência à categoria geral que inclui o uso de toda e qualquer forma de tecnologia relevante à educação ("hard" ou "soft", incluindo a fala humana, a escrita, a imprensa,
currículos e programas, giz e quadro-negro, e, mais recentemente, a fotografia, o cinema, o rádio, a televisão, o vídeo e, naturalmente, computadores e a Internet).

Não há porque negar, entretanto, que, hoje em dia, quando a expressão "Tecnologia na Educação" é empregada, dificilmente se pensa em giz e quadro-negro ou mesmo de livros e revistas, muito menos em entidades abstratas como currículos e programas. Normalmente, quando se usa a expressão, a atenção se concentra no computador, que se tornou o ponto de convergência de todas as tecnologias mais recentes (e de algumas antigas). E especialmente depois do enorme sucesso comercial da Internet, computadores raramente são vistos como máquinas isoladas, sendo sempre imaginados em rede - a rede, na realidade, se tornando o computador.

Faz sentido lembrar aos educadores o fato de que a fala humana, a escrita, e, conseqüentemente, aulas, livros e revistas, para não mencionar currículos e programas, são tecnologia, e que, portanto, educadores vêm usando tecnologia na educação há muito tempo. É apenas a sua familiaridade com essas tecnologias que as torna transparentes (i.e., invisíveis) a eles.

"Tecnologia na Educação" é uma expressão preferível a "Tecnologia Educacional", pois esta sugere que há algo intrinsecamente educacional nas tecnologias envolvidas, o que não parece ser o caso. A expressão "Tecnologia na Educação" deixa aberta a possibilidade de que tecnologias que tenham sido inventadas para finalidades totalmente alheias à educação, como é o caso do computador, possam, eventualmente, ficar tão ligadas a ela que se torna difícil imaginar como a educação era possível sem elas. A fala humana (conceitual), a escrita, e, mais recentemente, o livro impresso, também foram inventados, provavelmente, com propósitos menos nobres do que a educação em vista. Hoje, porém, a educação é quase inconcebível sem essas tecnologias. Segundo tudo indica, em poucos anos o computador em rede estará, com toda certeza, na mesma categoria.

A. Educação a Distância, Aprendizagem a Distância e Ensino a Distância
Destas três expressões, a terceira é provavelmente a menos usada. Entretanto, é a mais correta, tecnicamente falando.

Educação e aprendizagem são processos que acontecem dentro do indivíduo - não há como a educação e a aprendizagem possam ocorrer remotamente ou a distância. Educação e aprendizagem ocorrem onde quer que esteja a pessoa - e esta é, num sentido básico e muito importante, o sujeito do processo de 
educação e aprendizagem, nunca o seu objeto. Assim, é difícil imaginar como Educação a Distância e Aprendizagem a Distância possam ser possíveis, a despeito da popularidade dessas expressões.

É perfeitamente possível, contudo, ensinar remotamente ou a distância. Isto acontece o tempo todo. São Paulo ensinou, a distância, os fiéis cristãos que estavam em Roma, Corinto, etc. - usando cartas manuscritas. Autores, distantes no espaço e no tempo, ensinam seus leitores através de livros e artigos impressos. É possível ensinar remotamente ou a distância através de filmes de cinema, da televisão e do vídeo. E hoje podemos ensinar quase qualquer coisa, a qualquer pessoa, em qualquer lugar, através da Internet.

Assim, a expressão "Ensino a Distância" será preferível sempre que houver necessidade de se referir ao ato de ensinar realizado remotamente ou a distância. Que a educação e a aprendizagem possam acontecer em decorrência do ensino é inegável, mas, como já argumentado, isto não nos deve levar a concluir que a educação e a aprendizagem que ocorrem em decorrência do ensino remoto ou a distância também estejam ocorrendo remotamente ou a distância.

B. A Aprendizagem Mediada pela Tecnologia

A despeito de sua popularidade, Ensino a Distância talvez não seja a melhor aplicação da tecnologia na educação hoje. Este lugar possivelmente deve ser reservado ao que pode ser chamado de Aprendizagem Mediada pela Tecnologia. Como mencionado, não há dúvida de que a educação e a aprendizagem podem ocorrer em decorrência do ensino. Mas também não há dúvida de que a educação pode ocorrer através da auto-aprendizagem, i.e., através daquela modalidade de aprendizagem que não está associada a um processo de ensino, mas que ocorre através da interação do ser humano com a natureza, com outras pessoas, e com o mundo cultural. Uma grande proporção da aprendizagem humana acontece desta forma, e, segundo alguns pesquisadores, a aprendizagem, quando ocorre dessa forma, é mais significativa - isto é, acontece mais facilmente, é retida por mais tempo e é transferida de maneira mais natural para outros domínios e contextos - do que a aprendizagem que ocorre em decorrência de processos formais e deliberados de ensino (i.e., através da instrução).

O que é particularmente fascinante nas novas tecnologias disponíveis hoje, em especial na Internet, e, dentro dela, na Web, não é que, com sua ajuda, seja possível ensinar remotamente ou a distância, mas, sim, que elas nos ajudam a criar ambientes ricos em possibilidades de aprendizagem nos quais as pessoas interessadas e motivadas podem aprender quase qualquer coisa sem, necessariamente, se envolver num processo formal e deliberado de ensino. A aprendizagem, neste caso, é mediada apenas pela tecnologia.

Não há dúvida de que atrás da tecnologia há outras pessoas, que preparam os materiais e os disponibilizam através da rede. Quando alguém usa os recursos hoje disponíveis na Internet para aprender de maneiras auto-motivadas e exploratórias, ele usa materiais de diferentes naturezas, preparados e 
disponibilizados em contextos os mais variados, não raro sem qualquer interesse pedagógico, e ele faz isso de maneira totalmente imprevisível, que, portanto, não pode ser planejada, e num ritmo que é totalmente pessoal e regulado apenas pelo desejo de aprender e pela capacidade de assimilar e digerir o que ele encontra pela frente.

Por causa disso não parece viável chamar essa experiência de Ensino a Distância, como se fosse a Internet que ensinasse, ou como se fossem as pessoas por detrás dos materiais que ensinassem.
O que está acontecendo em um contexto como o descrito é Aprendizagem Mediada pela Tecnologia, auto-aprendizagem, isto é, aprendizagem que não é decorrente do ensino.

4. MODALIDADES DE USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO
À vista do que se disse, é possível concluir que as categorias em que podem ser classificadas as principais maneiras de utilizar a tecnologia na educação são:

Em apoio ao Ensino Presencial
Em apoio ao Ensino a Distância
Em apoio à Auto-aprendizagem

5. TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO E A TRANSFERÊNCIA DE PODER PARA O APRENDENTE

Para que a tecnologia, quando usada na educação, possa ser um instrumento de transferência de poder ("empowerment") para o aprendente, que permita que ele, de posse das potentes ferramentas de aprendizagem que a tecnologia coloca à sua disposição, possa gradativamente se tornar autônomo em sua aprendizagem, é necessário que, junto com a introdução da tecnologia na educação, sejam repensadas as práticas educacionais da escola - de modo a se rever, especialmente, a função dos conteúdos curriculares e o papel do professor no desenvolvimento das competências e habilidades que farão do aprendente alguém capaz de aprender sempre à medida que constrói seus projetos de vida no plano pessoal e social.

Métodos de Pesquisa em Antropologia

OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE.


                        A observação participante segue o princípio de que o antropólogo deve conviver e participar dos ritos e costumes do grupo estudado, ainda que pareça de pouca importância ele deve se ater até aos pormenores. Através da análise criteriosa, da observação, da convivência, seus estudos servirão de alicerce para o conhecimento da sociedade.
                        As bases desta investigação foram instituídas por Bronislaw Manilowski ao romper com a “antropologia de gabinete” e conviver com os ilhéus trobriandeses. Seus estudos estão pautados em um constante diálogo entre a observação participante e as descrições etnográficas.. Sua convivência durante quatro anos com aquela cultura contribuiu enormemente para o desenvolvimento da Escola Funcionalista. Tal convivência foi descrita em seu livro “Os argonautas do Pacífico Ocidental.” Esta obra é considerada como um marco na introdução de um novo modelo epistemológico. Trouxe para antropologia a caracterização de uma cultura segundo observações feitas pelo próprio antropólogo.

                        Antes da observação participante o critério de investigação baseava-se em questionários, relatos de viajantes, documentos que serviam de orientações para se determinar os padrões culturais que se relacionava com aquela sociedade. Com a nova metodologia de estudo, a visão etinocentrista e Eurocentrista foi posta de lado e assim as culturas que eram consideradas primitivas passaram a ganhar contexto mais contemporâneo.
                        Apesar deste novo conceito, desta nova visão, a aculturação dos povos tornou-se ponto de crítica, uma vez que contribuiu para a colonização dos povos.
                        A principal característica deste conceito (observação participante) foi dar valor aos povos à sua cultura (relativismo cultural) e esta observância colaborou para dar atualidade ao não-europeu.


Etnografia.

                        Seja em qualquer escola de pensamento a etnografia constituiu-se como método de pesquisa utilizado por diversos pensadores.
                        Segundo Spradley (1979), etnografia “é a descrição de um sistema de significados culturais de um determinado grupo”. Para Malinowski, etnografia é “a compreensão do ponto de vista do outro, sua relação com a vida, bem como a sua visão do mundo.” Segóvia Herrera define etnografia como a descrição de uma cultura particular que possibilita a descoberta de domínios de conhecimentos, bem como a interpretação de comportamento dos elementos culturais em relação a determinados aspectos.”
                        As definições acima mostram que o modo de colher dados e interpretá-los, os métodos de estudos, variam de acordo com cada escola de pensamento, entretanto, a etnografia não perde a sua importância, pois ela é intrínseca aos estudos antropológicos.
                        Este método de investigação foi introduzido por Manilowski, em seus estudos das tribos da Ilhas Trobriand e se consolidou com a publicação do livro “Os argonautas do Pacífico Ocidental, em 1984. Devemos entender que este método baseia- na descrição detalhada do grupo estudado e no significado do que eles fazem. Portanto, a etnografia assume caráter descritivo da cultura, do modo de vida, dos hábitos do grupo estudado, para mais tarde servir de base conclusiva aos estudo etnológicos.
                        Etnografia não é apenas escrever, mas escrever todos os pormenores, todos os aspectos, ainda que a primeira vista possam parecer sem importância


Hermenêutica.

Uma vez que, a partir do desenvolvimento tecnológico e industrial o distanciamento entre povos, e língua, e nação passou a ser cada vez menor, isto gerou, promovida pelas culturas de massa, por processos migratórios, uma uniformização cultural. A antropologia, que sempre foi considerada a ciência da alteridade, pareceu enfrentar um grande paradigma, pois o seu objeto de estudo (as diferenças culturais) pareceu se perder. Até então todos os estudos antropológicos estavam pautados em modelos descritivos. Somente a partir do século xx um novo conceito, desenvolvido por Hans-Georg Gadamer, denominado hermenêutica, passou a ser utilizado.
                        Na antropologia moderna coexistem quatro correntes antropológicas: a racionalista, a estrutural-funcionalista, a culturalista e a interpretativa. Esta última caracteriza-se pela hermenêutica, onde a busca de se compreender através da interpretação é um fator preponderante. Este conceito de pesquisa parte do pressuposto de que o antropólogo não deve ater-se a conceitos arraigados, mas procurar a partir de sinais, expressões simbólicas, o seu significado. O homem passa a ser visto por sua subjetividade.
                        Geertz foi um dos maiores expoentes deste novo modelo. Definiu cultura como sendo “um conjunto de idéias comuns a determinado grupo, que são trabalhados continuamente de maneira imaginativa, sistemática, explicável, mas não previsível.” (Geertz, 1989) Para este teórico a organização da vida social acontece através de símbolos, como sinais, representações, e para entendê-la e formular princípios a seu respeito, devemos estar sensíveis a esta subjetividade.
Assim, a “hermenêutica representa um esforço para aceitar a diversidade entre as várias maneiras que seres humanos têm de construir suas vidas no processo de vivê-las” (Geertz, 2001a, pp. 37 e 29).



quinta-feira, 23 de maio de 2013

Manuel Bandeira


A Estrela da Manhã

(Manuel Bandeira)

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte
Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã
Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Depois comigo
Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei terra e direi coisas de
[uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.