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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

FIGURAS SONORAS NA LITERATURA

Figuras sonoras

Por que poetas, romancistas e compositores sempre empregaram as figuras de som? Qual é o seu efeito de sentido?

por Luiz Roberto Wagner e Djenane Sichieri Wagner Cunha*

Quem nunca ouviu este verso de Caetano Veloso, presente na composição musical Chuva, suor e cerveja: Acho que a chuva ajuda a gente se ver, em que a reiteração das fricativas e das palatais sugere o barulho da chuva.
Há determinadas figuras de estilo que combinam os elementos sonoros de uma língua em textos, discursos, poemas, etc., para que soem agradavelmente.
Chamam-se figuras de som aquelas que se ligam aos aspectos fonéticofonológicos das palavras. São elas: aliteração, assonância, paronomásia e onomatopeia. Neste artigo, vamos nos ater, especificamente, às duas primeiras.
Tais figuras foram muito exploradas pelos poetas simbolistas lusobrasileiros, como Camilo Pessanha, Eugênio de Castro, Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. Além do subjetivismo, do misticismo e da musicalidade, havia uma certa preocupação com a sugestão, com o emprego de sensações (sinestesias) e com a repetição de consoantes e vogais idênticas ou parecidas.
Tendo em vista que a música é dos recursos que mais sugerem e melhor evocam o vago, o indefinível, o simbolista buscava explorar o conteúdo musical das palavras. Visando à aproximação da poesia com a música, os poetas lançaram mão de vários recursos, como a aliteração e a assonância.

ALITERAÇÃO
É a repetição proposital e ordenada de sons consonantais idênticos ou semelhantes. O efeito serve para reforçar a imagem que se quer transmitir.

"Esperando, parada, pregada na pedra do porto." (Dalla, Pallotino, Chico Buarque)

A reiteração e a sonoridade da consoante oclusiva bilabial /p/, principalmente no início das palavras, sugerem a fixação, a imutabilidade da personagem.
"Chove chuva choverando
Que a cidade de meu bem
Está-se toda se lavando."

(Oswald de Andrade)

Neste exemplo do poeta modernista, a repetição do som fricativo / ch/ enriquece a ideia de chuva.

Nos versos abaixo, do poeta Carlos Drummond de Andrade, percebemos a repetição de determinados elementos fônicos, como a sonoridade das consoantes /b/, /p/ e /t/, recurso da aliteração; a reiteração da nasalidade /õ/, exemplificando a assonância; e a paronomásia (semelhança de sons e diferença de sentidos) com bomba/pomba e atômica/atônita. Por serem consoantes oclusivas, os sons /p/ e /b/ também sugerem a explosão da bomba.

"Bomba atômica que aterra
Pomba atônita da paz
Pomba tonta, bomba atômica..."


A aliteração tem como efeito, geralmente, o reforço do ritmo que o escritor pretende imprimir à frase. Ela é mais comum na poesia do que na prosa. Vejamos um exemplo na prosa de Guimarães Rosa, em que a aliteração serve para enfatizar o significado central do texto:
"Boi bem bravo, bate baixo,
bota baba, boi berrando..."


Observemos este excerto da composição musical Vai passar, de Chico Buarque e Francis Hime:
"[...]
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
[...]"


Nesses versos, há um recurso expressivo sonoro na passagem "tenebrosas transações". A aliteração da consoante /r/ intercalada que aparece também em pátria, distraída e subtraída, dá relevo à expressão e reforça a sugestão de soturnidade que a reveste.

Nos textos em prosa de caráter não literário, a aliteração torna-se um defeito (vício de linguagem) e deve ser evitada. Chama-se colisão: Vejamos um exemplo:
"Prefeituras param no Paraná para contestar medidas." (Folha de S. Paulo)

ASSONÂNCIA
É a repetição proposital de sons vocálicos idênticos ou semelhantes.
"A linha feminina é carimá
Moqueca, pititinga, caruru
Mingau de puba, e vinho de caju
Pisado num pilão de Piraguá." (Gregório de Matos)


Note que, além das aliterações, existem sons vocálicos usados repetidamente: a, i, u.

Note que, além das aliterações, existem sons vocálicos usados repetidamente: a, i, u. que pronunciamos de forma mais aberta.

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa
Soluçando nas trevas entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.


Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.


Ó almas presas mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da dor, no calabouço atroz, funéreo!


Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!


A sensualidade, muito explorada pelo poeta, é substituída por uma ansiedade existencial: o texto exprime um desejo muito forte de transcendência, de superação dos limites impostos ao ser humano - que se impõe por meio da libertação dos sentidos. Indaga-se sobre as "chaves" capazes de abrir as "portas do Mistério", às almas que soluçam nas trevas.

Em todo o poema, o autor procurou destacar a limitação e a rigidez a que a alma humana está condenada. A condição humana é angustiante, na visão revelada por estas palavras: o cárcere das almas é o próprio corpo (condição material, a própria vida na terra). Soluçando entre as trevas, a alma, de sua "prisão" vê as imensidades, mares, estrelas, tardes, natureza, isto é, o mundo em suas manifestações de infinito e plenitude, o mundo em sua totalidade. Percebemos que a primeira estrofe é marcada pela assonância em "mares", "estrelas", "tardes", "natureza".

Na quarta estrofe, marcada pela aliteração (repetição de sons consonantais), presente no verso inicial, o eu lírico procura valores espirituais como solução que possibilite à alma o encontro com a libertação da triste condição material.

Independente da vogal usada, pode-se levar o assunto adiante como se fosse um texto comum. Assim:
"A fala atracada à faca
Ataca a graça abalada da traça
Perene que fere, repele
E ensebe esse blefe de pele
Que incide livre, insigne e triste
No horror dos sonhos nos coros
Num sururu de urubus em cruz"


Com essa sequência alfabética de vogais, o texto pode continuar, enquanto a imaginação e o divertimento persistirem.

MESCLA DE FIGURAS
É muito comum que as figuras apareçam mescladas em um mesmo texto.

O escritor Paulo Lins, em seu romance Cidade de Deus, expressa o avanço da violência no Brasil, nas últimas décadas, com a frase:
"Falha a fala. Fala a bala."

Nas duas frases, podem-se identificar a aliteração, configurada na repetição do fonema /f/; a assonância, pela repetição da vogal a; a paronomásia, pelo trocadilho ou jogo de palavras com apelo sonoro; e a personificação, pela característica humana atribuída à "bala".

Os poetas concretistas tinham certa predileção pelo verbivocovisual (palavra, som e imagem), com a escolha de palavras que concretizassem suas ideias auditivas e visuais. Analisemos, agora, este poema concretista de Ferreira :

O GOL
A esfera desce
do espaço
veloz
ele a apara
no peito
e a para
no ar
depois
com o joelho
a dispõe a meia
altura onde
iluminada
a esfera espera
o chute
que
num relâmpago
a dispara

na direção
do nosso

coração

As figuras sonoras são empregadas desde antes da lírica camoniana e contribuem para um texto mais vivo e musical, com os sons e o sentido próprio das palavras, trazendo novos efeitos de sentido

Percebe-se claramente que o poema apresenta aliteração (cadeia de sibilantes /s/: esfera, desce, espaço, veloz, depois, dispõe, esfera, espera, dispara, direção, nosso, coração), assonância (cadeia de vogais e) e paronomásia (apara / a para, esfera / espera). 

"E tia Gabriela sogra grasnadeira grasnou graves grosas de infâmia." (Oswald de Andrade)

Com a repetição de fonemas, o escritor modernista consegue um certo efeito de sentido: a fala de tia Gabriela assemelha-se, ironicamente, a um animal que emite o som alto, tais como corvos e abutres (o pato também grasna). Para conseguir tal efeito, o autor utilizou-se de duas figuras de linguagem: a aliteração e a assonância.

As figuras sonoras sempre foram empregadas por escritores - de Camões a Chico Buarque -, e podem, por conseguinte, contribuir para que o autor torne mais vivo o texto, além de explorar a musicalidade, com os sons e o sentido próprio das palavras, sugerindo um efeito de sentido, despertando sensações e impressões no leitor, visando à melhor compreensão do texto.



*Luiz Roberto Wagner é doutor em Letras pela UNESP de Araraquara-SP e autor do livro Use o português adequado: aspectos gramaticais e análise de textos. 3. ed. São Paulo: All Print. *Djenane Sichieri Wagner Cunha é pós-doutoranda em Língua Portuguesa, pela PUC-São Paulo.


Referência (s):

http://conhecimentopratico.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/42/artigo290502-2.asp

 




 






  


terça-feira, 25 de junho de 2013

DC COMICS X MARVEL COMICS - Dos Quadrinhos às versões Literárias.

DC X MARVEL


Eles são os principais super-heróis dos gibis, conhecidos mundialmente e símbolos icônicos de muitas gerações de aficionados. E pertencem às editoras MARVEL e  DC COMICS, gigantes do segmento.
Não é à toa que Superman, Batman, Homem-aranha, X-Men e vários outros personagens das duas publicadoras monopolizam as versões literárias dos supertipos fantasiados dos quadrinhos.

Uma dessas obras se acomodaria facilmente em lugar de destaque numa hipotética lista definitiva dos melhores livros de ficção científica lançados nas últimas décadas.


MARVEL


A Marvel Comics, apelidada de "Casa das Idéias", é uma editora americana famosa por suas histórias em quadrinhos. Fundada em 1939 por Martin Goodman, inicialmente era chamada de Timely Comics. Em 2009, foi comprada pela Walt Disney. Entre os mais famosos heróis da Marvel, estão o Homem-aranha, o Homem de Ferro, o incrível Hulk, o Capitão América, os X-Men e muitos outros personagens.




DC COMICS


Fundada pelo editor Major Malcolm Wheeler-Nicholson em 1934 como a National Allied Publications, a DC Comics é uma editora de histórias em quadrinhos. É uma unidade da DC Entertainment, parte da Warner Bros.
Entre os personagens mais famosos da DC, estão o Super Homem, o Batman, Mulher Maravilha, Aquaman, Lanterna Verde e Flash, entre muitos outros. É importante também citar o selo Vertigo, pertencente à DC Comics, que publica as histórias consideradas mais sofisticadas e maduras.





DC X MARVEL







Nos Estados Unidos, os contos e romances estrelados por super-heróis dos gibis são uma realidade consolidada: a partir dos anos 70, ela tornou-se uma indústria tão prolífica quanto lucrativa.



sábado, 22 de junho de 2013

ARTIGO (TIPOS DE ARTIGO)

ARTIGO


O artigo é uma palavra que só se usa antes do substantivo. Além de indicar o gênero e o número do substantivo, serve para individualizá-lo ou generalizá-lo. Exemplos:Comprei o jornal - indica o gênero e o número do substantivo jornal e o individualiza, pois já se sabe de qual jornal se trata.Comprei um jornal - indica o gênero e o número do substantivo jornal e o generaliza, pois não se sabe de que jornal se trata.

TIPOS DE ARTIGO


O artigo que individualiza o substantivo é o ( e suas variações a, os, as ). Chama-se artigo definido. 

O artigo que generaliza o substantivo é um ( e suas variações uma, uns, umas ). Chama-se artigo indefinido.

USO DO ARTIGO


O artigo definido se usa obrigatoriamente nestes casos:

- Antes de qualquer substantivo que indique ser já conhecido. Exemplos:
o jornal da cidade, o médico da família.

- Antes de nomes de continentes (a Europa, a Ásia), de países (o Brasil, a Inglaterra), de regiões (o Nordeste, o Sul), de rios (o Amazonas, o São Francisco) e de oceanos (o Atlântico, o Índico). Principais exceções: Angola, Chipre, Cuba, Luxemburgo, Macau, Madagáscar, Moçambique, Mônaco, Portugal, Uganda e Zâmbia.

- Antes de nomes de Estados brasileiros: o Amazonas, a Bahia, etc. Exceções: Goiás, Mato Grosso (porém: o Mato Grosso do Sul), Minas Gerais, Pernambuco, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe.

- Antes de nomes de bairros: a Lapa, a Penha, a Pituba, os Aflitos. Existem inúmeras exceções, dentre as quais destacamos: Cascadura, Copacabana, Ipanema, Itapuã, Perdizes, Piatã, Pinheiros, Santana, Santa Teresa.

- Antes de nomes de clubes e agremiações: o Flamengo, o Palmeiras, o Renascença, etc.

- Antes de festas religiosas e profanas: o Natal, a Páscoa, o carnaval, a micareta, etc.
Se vierem depois de preposição, todos esses nomes dispensam o uso do artigo. Exemplos: noite de Natal, domingo de Páscoa, sábado de carnaval, dia de micareta.

- Antes dos nomes das horas: as três horas, a uma hora, etc.
aparecem quase sempre depois de preposição. Exemplos: das três às sete horas, entre as duas e as três horas, etc.

- Diante do pronome indefinido Todo, usa-se o artigo para indicar totalidade, caso o termo posterior o exija; não se usa, pra indicar generalização. Se o termo posterior não exigir artigo, este não será utilizado, mesmo que  haja indicação de totalidade.
Exemplo: Todo o país participou da greve. (o país todo, inteiro)
Todo país sofre por algum motivo. (qualquer país, todos os países)
Todo Portugal aprecia vinho. (o substantivo Portugal não admite artigo)

- As formas à e às indicam a fusão da preposição a com o artigo definido a. Essa fusão de vogais idênticas é conhecida por crase.- As formas pelo(s)/pela(s) resultam da combinação dos artigos definidos com a forma per, equivalente a por.


Artigos, leitura e produção de textos
O uso apropriado dos artigos definidos e indefinidos permite não apenas evitar problemas com o gênero e o número de determinados substantivos, mas principalmente explorar detalhes de significação bastante expressivos. Em geral, informações novas, nos textos, são introduzidas por pronomes indefinidos e, posteriormente, retomadas pelos definidos. Assim, o referente determinado pelo artigo definido passa a fazer parte de um conjunto argumentativo que mantém a coesão dos textos. Além disso, a sutileza de muitas modificações de significados transmitidas pelos artigos faz com que sejam frequentemente usados pelos escritores em seus textos literários.




quarta-feira, 19 de junho de 2013

SUBSTANTIVO ( TIPOS DE SUBSTANTIVO )

TIPOS DE SUBSTANTIVO

Estrela, Lua, floresta, amizade,ódio, beija-flor, Deus, Diabo, Brasil e livraria são seres que existem ou que imaginamos existir. Em português, qualquer ser que existe ou que imaginamos existir recebe o nome de substantivo. Portanto, estrela, Lua, floresta, amizade, ódio, beija-flor, Deus, Diabo, Brasil e livraria são substantivos.
Toda e qualquer palavra antecedida de um artigo se torna automaticamente um substantivo: o não, um sim, o amanhecer, um cinco, etc.


TIPOS DE SUBSTANTIVOS


O substantivo pode ser:

comum - quando se refere a todos os seres de uma mesma espécie.Exemplos: jornal ( esse nome se refere a toda espécie jornal ), cidade ( esse nome identifica toda a espécie cidade ).

próprio - quando se refere a um só ser de uma mesma espécie. Exemplos: O Globo ( esse nome se refere a um só ser da espécie jornal ),  Recife ( esse nome identifica um ser da espécie cidade ).

simples - quando formado por um só radical. Exemplos: flor, couve, moleque, pé.

composto - quando formado por mais de um radical. Exemplos: couve-flor, pé-de-moleque.

primitivo - quando dá origem a outros substantivos. Exemplos:  carro.

derivado - quando se origina de outro substantivo, o primitivo. Exemplos:  carroça, carroceiro, carretel, carruagem, carriola, carrossel, etc.

concreto - quando indica um ser de existência independente, real ou não. Exemplos: beija-flor, estrela, ar,  Deus, alma, lobisomem, fada.

abstrato - quando indica um ser de existência dependente, isto é, ser que não existe no mundo exterior, mas apenas em nossa consciência. Exemplos: amor (existe noutro ser; é, portanto, ser dependente), saudade ( não existe no mundo exterior), inveja (existe apenas na consciência das pessoas), ódio, etc.

IMPORTANTE


Não há propriedade em afirmar que substantivo concreto é aquele que indica um ser que "a gente pode pegar", e e substantivo abstrato é o que indica um ser que "a gente não pode pegar". Entendido o assunto dessa forma, como explicar, por exemplo, que ar é substantivo concreto, que Deus é substantivo concreto e que Plutão é substantivo concreto? 

Entre os substantivos comuns se encontram os coletivos, que, embora estejam no singular, indicam vários seres da mesma espécie. Exemplos: exército (muitos soldados), manada ( muitos elefantes, ou muitos cavalos, ou muitos búfalos, etc.).

Substantivos derivados de verbos, tais como casamento, trabalho, são concretos ou abstratos?
São abstratos. Qualquer substantivo que indique ação (caso de casamento e trabalho), estado ou qualidade (limpeza, bondade) é abstrato.

Morfossintaxe do substantivo
Nas orações de língua portuguesa, o substantivo em geral exerce funções diretamente relacionadas com o verbo: atua como núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto ou indireto) e do agente da passiva. Pode ainda funcionar como núcleo do complemento nominal ou do aposto, como núcleo do predicativo do sujeito ou do objeto ou como núcleo do vocativo. Também encontramos substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de adjuntos adverbiais - quando essas funções são desempenhadas por grupos de palavras. 







terça-feira, 18 de junho de 2013

CORA CORALINA - ANINHA E SUAS PEDRAS

ANINHA E SUAS PEDRAS
( Cora Coralina )

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.


ÁLVARES DE AZEVEDO - O POETA

O POETA

( Álvares de Azevedo )

Era uma noite – eu dormia
E nos meus sonhos revia
As ilusões que sonhei!
E no meu lado senti...
Meu Deus! Por que não morri?
Por que no sono acordei?

No meu leito – adormecida,
Palpitante e abatida,
A amante de meu amor!
Os cabelos rescendendo
Nas minhas faces correndo
Como o luar numa flor!

Senti-lhe o colo cheiroso
Arquejando sequioso;
E nos lábios, que entr’abria
Lânguida respiração,
Um sonho do coração
Que suspirando morria!

Não era um sonho mentido;
Meu coração iludido
O sentiu e não sonhou:
E sentiu que se perdia
Numa dor que não sabia...
Nem ao menos a beijou!

Soluçou o peito ardente,
Sentiu que a alma demente
Lhe desmaiava a tremer;
Embriagou-se de enleio,
No sono daquele seio
Pensou que ele ia morrer!

Que divino pensamente,
Que vida num só momento
Dentro do peito sentiu...
Não sei... Dorme no passado
Meu pobre sonho doirado...
Esperança que mentiu!

Sabem as noites do céu
E as luas brancas sem véu
As lágrimas que eu chorei!
Contem do vale as florinhas
Esse amor das noites minhas!
Elas sim...eu não direi!

E se eu tremendo, senhora,
Viesse pálido agora
Lembrar-vos o sonho meu,
Com a fronte descorada
E com a voz sufocada
Dizer-vos baixo – Sou eu!

Sou eu! que não esqueci
A noite que não dormi,
Que não foi uma ilusão!
Sou eu que sinto morrer
A esperança de viver...
Que o sinto no coração! –

Riríeis das esperanças,
Das minhas loucas lembranças,
Que me desmaiam assim?
Ou então, de noite, a medo
Choraríeis em segredo
Uma lágrima por mim?


segunda-feira, 17 de junho de 2013

EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS

Expressões idiomáticas


A linguagem metafórica constitui uma grande parte de nossa linguagem cotidiana, mas estamos tão acostumados que, às vezes, nem percebemos. As expressões idiomáticas, provérbios, ditos populares e gírias são um bom exemplo disso. Embora esse tipo de frases e expressões tenham significados metafóricos bastante marcados, o distanciamento do sentido próprio torna mais difícil imaginar como essas expressões adquiriram o sentido que têm atualmente. Nem por isso temos dificuldades em usá-las, pois sabemos seus os sentidos fazem parte de nossa memória cultural.

As expressões idiomáticas não se subdividem e constituem-se por conglomerados linguísticos de sentido metafórico fixo. Se o sentido for subdividido em palavras isoladas, a expressão se descaracteriza e seu valor cultural, idiomático, não terá mais sentido. Por exemplo, a expressão "abaixar a cabeça" significa, em sentido metafórico, "submeter-se", "humilhar-se", mas, em sentido denotativo, o sentido é movimentar a cabeça, colocando-a em posição mais baixa. Por isso, dizemos que somente o uso da sentido à linguagem, uma vez que os sentidos podem ser variados, múltiplos.

será que você já conheceu alguém que torcia o nariz? Já comprou um presente que lhe custou os olhos da cara? Já teve de se mostrar com quantos paus se faz uma canoa?
Como você já deve ter percebido, nossa língua é cheia de expressões curiosas, que têm um significado especial e não podem ser traduzidas ao pé da letra. São as chamadas Expressões idiomáticas que todo mundo usa, mas pouca gente sabe de onde vêm. veja o caso de pé-rapado.
No Brasil imperial, o calçado era um símbolo de status. Os nobres, por exemplo, gostavam de exibir-se com largas botas. Os ricos e burgueses usavam sapatos sempre lustrosos. Já os homens do povo andavam descalços, de pé no chão e, por isso eram chamados de pés-rapados. A simbologia era tão forte que, assim que recebia sua alforria, o escravo ia logo comprar um par de sapatos, para ingressar na classe dos pés-calçados.

Já a expressão maria-vai-com-as-outras tem origem  religiosa e está ligada a Nossa Senhora. Isto porque, normalmente, os rosários eram  formados por 150 Ave Marias- todas sempre iguais, em seqüência, separadas apenas por 15 Pais Nossos. Ou seja, a uma Maria, seguiu-se as demais. No passado, quando uma pessoa tinha personalidade fraca, o povo começou a dizer: é uma Maia vai com as outras.....